A Igreja não tem garantias de que ela sempre terá um papa (sem interrupções); mas quando ela possui um, é garantida à ela um que seja Católico.

Thursday, November 3, 2016

RESPOSTA AO BISPO WILLIAMSON


A Propósito da Vacância da Sé Romana
(mar. 2014)
Bispo Donald J. SANBORN


Introdução

O bispo Williamson colocou recentemente em seu blogue Kyrie Eleison uma série de artigos tentando refutar o sedevacantismo. Tendo ele atraído para si os mais ferrenhos anti-modernistas da FSSPX, creio que bispo Williamson está encontrando entre eles uma certa tendência para o Sedevacantismo. Alguns deles são sedevacantistas professos, se bem que opinionistas na maioria dos casos; isto quer dizer que, embora estimem que Bergoglio não seja papa, reconhecem que a opinião contrária, de que Bergoglio é o papa, tem alguns argumentos prováveis a seu favor. Tenho certeza de que a minha recente visita à Inglaterra agitou um pouco as coisas também.

No presente artigo, estou respondendo a dois artigos do bispo Williamson de seu blogue, os de número 342 (de 1.º de fevereiro de 2014) e 344 (de 14 de fevereiro de 2014).

Permitam-me declarar que não tenho conflito pessoal algum com o bispo Williamson a despeito de nossos muitos anos de oposição no passado. Ele manteve a discussão em alto nível e racional, pretendo fazer o mesmo.

Resumi e parafraseei os argumentos dele, em prol da brevidade.


O Primeiro Argumento
[Tirado do Número 342]

O bispo Williamson defende a posição do Arcebispo Lefebvre de aceitar os papas Novus Ordo, mas ao mesmo tempo, passando os ensinamentos e leis deles por uma peneira; retendo o que é católico e rejeitando o que é acatólico. Ele diz que fazer isso por escolha pessoal é equivalente a heresia, mas não é equivalente a heresia caso se faça a escolha baseando-se em uma tradição bimilenar.

Resposta. (1) Todo herege apela a alguma forma de revelação, seja da Escritura ou da Tradição, para fazer a sua escolha de doutrina que é contrária ao ensinamento da Igreja Católica. Assim, o católico tradicional, ao escolher doutrina, não fica salvo do espírito de heresia. Por quê? Porque ele apela à Tradição acima do magistério da Igreja. O magistério, porém, é infalível, e portanto é necessariamente tradicional.

(2) A hierarquia católica é a fiadora da conformidade do ensinamento presente com o ensinamento tradicional. Nós não podemos, por um lado, considerá-los como autoridade e, ao mesmo tempo, dizer que a doutrina deles se desvia da Tradição. Desviar-se da Tradição é estar em erro. A noção própria da infalibilidade inclui que a doutrina que eles ensinam esteja em conformidade com a Tradição. Como poderia ser infalível se ela se desvia da Tradição? Se a doutrina deles desvia da Tradição, só há uma coisa a se dizer: eles não são a autoridade, dado que manifestam que não são assistidos por Cristo na promulgação de doutrina.

Os católicos, consequentemente, não precisam, nem podem, peneirar o magistério da Igreja à procura de erros ou heresias. A finalidade própria da Igreja Católica é a de ensinar infalivelmente a raça humana em nome de Cristo, que presta assistência perpétua à Igreja para fazer exatamente isso.

Além disto, o sistema de peneirar o magistério para separar o que é da Tradição despoja toda autoridade dos pretensos papas e bispos. A autoridade, num caso desses está, na realidade, com o peneirador, já que ele tem a última palavra quanto ao que é católico ou não. Despojando, assim, a hierarquia do Novus Ordo de sua autoridade de ensinar, governar e santificar a Igreja, o bispo Williamson está efetivamente argumentando em prol do sedevacantismo.


O Segundo Argumento
[Tirado do Número 342]

O bispo Williamson cita o argumento dos sedevacantistas de que os “papas” do Vaticano II promulgaram falsas doutrinas, leis e culto. Assim fazendo, estes destroem a indefectibilidade da Igreja, se forem verdadeiros papas. Para rebater esse argumento, ele aduz o caso do Papa Libério (352-366), que – alega ele – assinou um formulário herético. Neste caso, diz ele, a indefectibilidade não operou através do papa, mas através de Santo Atanásio, que permaneceu ortodoxo. De igual maneira em nosso tempo, a indefectibilidade é assegurada através do Arcebispo Lefebvre e daqueles que o seguem.

Resposta. 
Há três coisas a reparar aqui. 

(1) O Papa Libério não assinou um formulário herético. Assinou, sim, um formulário ambíguo, dando a este interpretação ortodoxa. Mas ainda que se concedesse, em prol da argumentação, que ele tivesse assinado um formulário herético, é certo que o Papa Libério não ensinou essa doutrina à Igreja inteira. Ora, as falsas doutrinas do Vaticano II têm sido promulgadas para toda Igreja pelos “papas” do Vaticano II e seus “bispos”. Esse fato representa uma diferença essencial entre o caso Libério e o dos “papas” do Vaticano II. Logo, a analogia é falsa.

(2) A indefectibilidade não fica salva pela fidelidade de um bispo ou de alguns bispos aos quais os fiéis devam aferrar-se. A Igreja Católica é essencialmente hierárquica, e consequentemente não é possível separar os seus atos e os seus atributos, dos Papas e da hierarquia universal. O que eles fazem, ela faz. Se eles falham, ela falha. O dom da profecia no Antigo Testamento, que era a missão de ensinar infalivelmente a revelação de Deus para os judeus, foi transferido por Cristo no Novo Testamento à Hierarquia católica. Logo, não pode haver nenhum “bispo-profeta” como o Arcebispo Lefebvre que peneire os ensinamentos da hierarquia católica, tornando-se ele próprio a autoridade infalível. A infalibilidade e indefectibilidade da Igreja Católica tem de ser operada pelo Papa e bispos em união com ele. Ela não tem como ser garantida por um ou alguns bispos que estabeleçam a si próprios como corretores do Papa e do restante da hierarquia. Sustentar uma teoria dessas arruína a constituição divina da Igreja Católica. A essência do Catolicismo é estar dotado de uma hierarquia que tem poder de ensinar, governar e santificar em nome de Cristo e com a mesmíssima autoridade que Jesus Cristo. Se os fiéis, para descobrirem a verdade sobrenatural, precisam recorrer a bispos-profetas, denunciantes que se voltam contra esta hierarquia, a própria natureza e essência da Igreja Católica cai em ruína.

Noutras palavras, ninguém pode falar em nome de Deus acima ou à margem da Hierarquia Católica-Romana.

(3) O sistema do bispo Williamson, de peneirar o magistério para determinar sua conformidade com a Tradição, subverte completamente a regra católica da fé, que é o magistério da Igreja Católica. O sistema dele é essencialmente o dos protestantes. Eles sustentam que cada indivíduo tem de decidir por si mesmo qual a verdadeira interpretação das Escrituras. O bispo Williamson está dizendo que cada católico precisa decidir por si mesmo o que ele considera estar em conformidade com a Tradição ou não. Uma tal regra da fé conduziria a exatamente o que o protestantismo é: um aglomerado de pessoas que não têm absolutamente nenhuma unidade de fé, que altercam infindavelmente acerca do que dizem as Escrituras, e que se fragmentaram numa miríade de facções dogmáticas.

Há muitos casos na história da Igreja Católica em que esse apelo ao mais alto tribunal da Tradição por sobre a cabeça do magistério levou a grave erro. Os Donatistas tornaram-se cismáticos, por exemplo, porque pensaram que a Igreja estava errada em aceitar como válidos os sacramentos daqueles que tinham caído em apostasia durante a perseguição. Os Gregos entraram em cisma no século IX porque diziam, entra outras coisas, que o uso de pão ázimo no rito romano não era tradicional, e que portanto não era válido. Eles rejeitaram também o primado do Papa sob pretexto de que não fosse tradicional. Os vétero-católicos no século XIX, igualmente, rejeitaram a infalibilidade papal alegando que ela não fosse tradicional. Mesmo os modernistas argumentam que a Igreja Católica transformou-se com o tempo em algo que não pode ser encontrado na Igreja primitiva, e que portanto não é tradicional. Toda a reforma litúrgica da década de 1960 foi baseada na noção falsa do arqueologismo, a saber: de que os períodos medieval e tridentino criaram uma liturgia que não estava em conformidade com a tradição primitiva. Os Feeneyítas (Fineístas) alegam que a doutrina católica do Batismo de Sangue e de Desejo não pode ser reconciliada com a Tradição, mas foi inventada no século XIX.


A noção do bispo Williamson de peneirar a tradição, que é uma urdidura de Ecône, é um potencial vespeiro de heresia e cisma, e põe o católico tradicional nas piores companhias.


O Terceiro Argumento
[Tirado do Número 342]

O bispo Williamson afirma corretamente: “O que os bispos do mundo ensinam, em união com o Papa, é o Magistério Universal Ordinário da Igreja, que é infalível.” Ele propõe então o argumento dos sedevacantistas de que, dado que o Vaticano II tem sido promulgado pelos “papas” e “bispos” do Vaticano II, é impossível que eles sejam verdadeiros Papas e bispos. O bispo Williamson responde a isto dizendo que o Magistério Ordinário Universal do Vaticano II e anos subsequentes não esteve de acordo com a Tradição. Logo, não é magistério ordinário universal. Logo, o argumento dos sedevacantistas é falso.

Resposta. A noção que o bispo Williamson tem do Magistério Ordinário Universal (a ordem usual das palavras; doravante: MOU) é falsa. Vem de uma teoria que era comumente propagada em Ecône quando lá estive, de que um ensinamento não qualificava como MOU se não estivesse em conformidade com a Tradição. Logo, nessa visão, é possível que o Romano Pontífice junto do inteiro corpo dos bispos ensine uma doutrina à Igreja inteira que, de fato, seja herética. Uma afirmação dessas é que é herética!

Em parte alguma, a ideia Econiana de fazer a triagem do MOU pode ser encontrada nos livros-texto de teologia dogmática ou no ensinamento da Igreja Católica. A definição de MOU dada pelo Pe. Reginald-Maria Schultes O.P., escrevendo em 1931, é a seguinte: “O magistério ordinário e universal é exercido quando a Igreja prega a doutrina revelada, ensina-a em suas escolas, publica-a através dos bispos, e a atesta e explica através dos Padres da Igreja e dos teólogos.”
[1. Schultes, Reginald-Maria, De Ecclesia Catholica Prælectiones Apologeticæ (Paris: Lethielleux, 1931), p. 355. Itálicos do original.] Todos os teólogos católicos concordam nesta definição.

O Pe. Sylvester Berry escreve:

“A autoridade docente ordinária dos bispos é aquela que eles exercem ao ensinarem os fiéis de suas respectivas dioceses mediante cartas pastorais, sermões proferidos por eles próprios ou por outros aprovados para esse fim, e mediante catecismos ou outros livros de instrução publicados e aprovados por eles. Quando os bispos da Igreja, empenhados desse modo no dever de instruir seu povo, são praticamente unânimes em proclamar uma doutrina de fé ou costumes, diz-se que eles exercem a autoridade docente universal, e são então infalíveis quanto a esta doutrina. Noutras palavras, uma doutrina de fé ou moral na qual praticamente todos os bispos da Igreja concordem é infalivelmente verdadeira. A fé da Igreja discente deve corresponder à fé proposta pelos bispos que constituem o corpo docente na Igreja. Logo, se os bispos como um corpo não fossem infalíveis, a Igreja toda poderia ser induzida em erro a qualquer momento, e destarte cessar de ser a Igreja de Cristo, a coluna e o fundamento da verdade.”
[2. Berry, Sylvester, D.D., The Church of Christ (Saint Louis: B. Herder, 1927), pp. 466-467.]

Para provar ainda mais o que estou dizendo, chamo vossa atenção para o livro-texto de Teologia Dogmática escrito pelo Pe. Francis Diekamp em 1917, intitulado Theologiæ Dogmaticæ Manuale. Ele afirma:

“Os bispos individuais exercem o supramencionado magistério ordinário na sua instrução religiosa ordinária ou em instruções desse tipo que ocorram por ordem sua e sob sua vigilância, e em juízos publicados pelos Soberanos Pontífices e dados por escrito, em Sínodos sejam provinciais ou diocesanos, na condenação de erros feita em cartas pastorais, na publicação de catecismos ou livros de devoção que são distribuídos à diocese toda, etc.Os livros litúrgicos prescritos pelos bispos e especialmente pelos Romanos Pontífices são de grande importância em argumentos tocantes ao dogma. As leis, ritos e orações neles contidas dão testemunho da fé dos pastores e dos fiéis. Do consenso, com que todas as igrejas ocidentais e orientais concordam na fé, advém obrigação de prestar o assentimento de fé. O Papa Celestino I [422-432] ensinou isto: “Olhemos também para os mistérios sagrados das orações dos sacerdotes, que foram transmitidas desde os Apóstolos e são uniformemente celebradas no mundo todo e em todas as igrejas católicas, a fim de que a lei da oração fixe a lei da crença.” [Destaque no original.] (Epist. 21, 11)

A doutrina dos bispos considerada conjuntamente, exatamente como a definição ex cathedra do Romano Pontífice, não é tornada infalível pelo assentimento que a Igreja discente dá a ela; pelo contrário, é infalível por si mesma em razão da assistência divina, pela qual é preservada de erro. [Grifos adicionados.]

A doutrina exposta por esses autores, bem como a descrição do MOU, estão em conformidade com a de todos os teólogos católicos. Ultrapassa o escopo deste artigo aduzir todas as provas.

A noção de MOU do bispo Williamson, por outro lado, não pode ser encontrada no livro de nenhum teólogo católico, nem no magistério da Igreja. A ideia de MOU do bispo Williamson exige que o ensinamento universal da Igreja seja analisado e adjudicado pelos fiéis quanto à sua conformidade com a Tradição. Num tal cenário, é inteiramente possível que a hierarquia ensine heresia num dado ponto qualquer, mas que a infalibilidade e indefectibilidade da Igreja sejam preservadas pela própria rejeição desse magistério, baseado nos fiéis que não a encontrarem conforme à Tradição. 
Isso é tão absurdo como dizer: “a Igreja Católica é infalível exceto quando erra.” Ademais, o sistema dele requer que os fiéis formem o juízo de se aceitar ou não o magistério ordinário universal, baseados numa convicção pessoal de que ele esteja em conformidade com a Tradição ou não. Noutras palavras, os fiéis devem peneirar o ensinamento da Igreja universal toda vez que ela se pronuncia, a fim de distinguir a verdade do erro. Como já disse, tal noção de magistério despoja o Papa e a Hierarquia de sua autoridade e a desloca para o indivíduo, já que ele possui a última palavra no quesito se a doutrina está ou não, conforme à Tradição.

O que o bispo Williamson diz sobre a Tradição também poderia ser atribuído à Escritura. E se eu pensar que algum ato do magistério da Igreja não esteja compatível com a Sagrada Escritura? Tenho então o direito de rejeitá-lo, ao mesmo tempo que considero tal papa, negador da Escritura, como verdadeiro Vigário de Cristo?

A arrepiante realidade é que as ideias do bispo Williamson estão em exata conformidade com aquilo que o herege arquimodernista Hans Küng disse em seu livro de 1970 intitulado Infalível? Uma Interpelação. Nele, Küng diz que a infalibilidade da Igreja não está atrelada a fórmulas dogmáticas, as quais, diz ele, na realidade podem estar erradas, mas sim ao comprometimento global e duradouro da Igreja com a verdade. Küng afirma:

“A infalibilidade, a inenganabilidade nesse sentido radical, significa, portanto, uma permanência fundamental da Igreja na verdade, que não é anulada por erros individuais.”
[3. Küng, Hans, Infallibility? An Inquiry (Garden City, New York: Doubleday, 1971), pág. 181. Destaques do original.]

“Mas ser verdadeira, por parte da Igreja, não depende absolutamente de proposições infalíveis bem definidas, mas em permanecer ela na verdade através de todas as — mesmo errôneas — proposições.”
[4. Ibid., pág. 182.]

Ele cita Yves Congar, outro arquimodernista no Concílio:

“Uma ou outra parte da Igreja pode errar, até mesmo os bispos, até mesmo o papa; a Igreja pode ser chacoalhada pelas tempestades: no fim, ela permanece fiel.”
[5. Citado em ibid., pág. 183.]

E a seguinte afirmação de Küng se assemelha bem de perto à posição do bispo Williamson:

“Onde, então, nesses tempos sombrios, a indefectibilidade da Igreja foi realmente manifestada? Não na hierarquia nem na teologia, mas entre aqueles inumeráveis, e em sua maioria desconhecidos cristãos — e sempre houve alguns bispos e teólogos no meio deles — que, mesmo nos piores períodos da Igreja, ouviram a mensagem cristã e tentaram viver de acordo com ela na fé, no amor e na esperança.”
[6. Ibid., pág. 189.]

“Foram eles as verdadeiras testemunhas da verdade de Cristo…”
[7. Ibid.]

Küng cita os cismáticos orientais, a fim de provar sua tese:

Os patriarcas cismáticos escreveram a Pio IX em 1848: “Entre nós, nem Patriarcas nem Concílios jamais lograram introduzir novos ensinamentos, pois o guardião da religião é o próprio corpo da Igreja, ou seja o próprio povo (laos).” [8. Apud ibid., pág. 200.]

Küng cita o teólogo russo cismático Alexei Khomiakov, que diz:

“A constância invariante e verdade inerrante do dogma cristão não depende de nenhuma ordem hierárquica; ela é guardada pela totalidade, pelo inteiro povo da Igreja, que é o Corpo de Cristo.”
[9. Apud ibid., página 201.]

Nos Trinta e Nove Artigos anglicanos, lê-se: “Assim como as Igrejas de Jerusalém, de Alexandria e de Antioquia erraram; assim também a Igreja de Roma errou, não somente em sua conduta e forma cerimonial, mas também em questões de fé.”

O bispo Williamson não consegue escapar do acordo com esses hereges protestantes, pois mantendo ele que a hierarquia modernista é a hierarquia católica, ele não tem como fugir da conclusão de que “a Igreja de Roma errou”. Em contrapartida, o sedevacantista mantém que os falsos ensinamentos e práticas do Vaticano II não vêm da Igreja de Roma, mas de um grupo de mafiosos eclesiásticos, hereges, que estão simulando ser a hierarquia católica. O dever do católico nesta crise é desmascarar esses impostores, e denunciá-los como falsos hierarcas.

É verdade que devemos comparar todas as coisas, ditas por quem quer que seja, com o ensinamento tradicional da Igreja. De igual maneira, comparamos com os primeiros princípios da razão tudo aquilo que ouvimos, e imediatamente rejeitamos o que for contraditório. Num caso como o nosso, em que vimos a aparente hierarquia católica ensinar falsa doutrina e promulgar falso culto e leis pecaminosas, é necessário concluir que eles não são verdadeiros papas e bispos, dado que é impossível que verdadeiros papas e bispos, tomados como um todo, façam uma coisa dessas. A defecção do Vaticano II com relação à verdade, e seu ensinamento de heresia à Igreja universal, são sinais infalíveis de que Paulo VI não era verdadeiro papa, e nunca foi um verdadeiro papa. Pois toda a autoridade de qualquer concílio geral depende do Papa.

A doutrina que acabo de expor está inteiramente concorde com a Sagrada Escritura, na qual São Paulo, em Gálatas I, 8-9, afirma: “Mas ainda que nós, ou um anjo do céu, vos pregue um evangelho além daquele que nós vos pregamos, seja anátema. Como eu já disse, digo novamente agora: Se alguém vos pregar um evangelho, além daquele que vós recebestes, seja anátema.” Note-se que ele não os manda peneirar o docente de falsidades à cata de migalhas de boa doutrina, mas pelo contrário, manda que eles o rejeitem por completo. Seja anátema. Esta doutrina está em conformidade também com a bula do Papa Paulo IV Cum ex apostolatus de 1559, que convoca à completa rejeição de um Romano Pontífice que se descubra ser herege, e não à triagem da doutrina dele.

Resumindo minha resposta: O magistério ordinário universal, que é o ensinamento referente à fé e à moral de todos os bispos espalhados pelo mundo inteiro, junto do Romano Pontífice, é infalível. Esta doutrina foi definida no Concílio Vaticano de 1870, e está no Código de Direito Canônico de 1917. Logo, é herético até mesmo pôr em dúvida aquilo que é ensinado pelo magistério ordinário universal. Se o que aparenta ser o magistério ordinário universal contradiz o ensinamento da Igreja, então a conclusão necessária é que isso não pode ter vindo da verdadeira hierarquia da Igreja Católica, pois eles são assistidos por Cristo a não cometerem erros a esse respeito. É contrário à constituição da Igreja rejeitar o magistério ordinário universal como falso, ao mesmo tempo que aceitando a hierarquia que o promulga como sendo a verdadeira Hierarquia Católico-Romana. A noção de magistério ordinário universal do bispo Williamson é falsa, e extremamente perigosa, pois leva o católico a crer que a inteira Igreja docente, o Romano Pontífice com todos os bispos, seja capaz de ensinar erro em matérias que são da alçada da fé. Portanto, os princípios do bispo Williamson concernentes ao magistério ordinário universal não podem ser usados contra os argumentos em prol do sedevacantismo, já que os princípios dele são falsos.


O Quarto Argumento
[Tirado do Número 343]

Aqui o bispo Williamson tenta neutralizar aquele argumento dos sedevacantistas que postula que, dado que os papas do Vaticano II são hereges públicos, eles não podem ser Papas. Ele responde que os papas conciliares, embora tenham afirmado heresias objetivas, subjetivamente não são culpados do pecado ou crime de heresia, devido ao fato de não termos como provar, fora de um tribunal legítimo, que eles realmente têm consciência de contradizer o ensinamento católico.

Resposta. (…omissis…)

[N. do T. – Embora do mais alto interesse, a resposta a este ponto saía do assunto do M.O.U. que principalmente interessa aqui, e por brevidade a omito, referindo o leitor interessado neste argumento ao estudo mais amplo do Rev. Pe. Anthony CEKADA, O erro mentevacantista do bispo Williamson, set. 2006; trad. br. de nov. 2012 em: “wp.me/pw2MJ-1zS”.]


Resposta ao Número 344

Esta continuação é uma explicação da infalibilidade da Igreja, mas que padece dos mesmos erros, similares aos de Hans Küng, que mencionamos acima. Procura desvincular da hierarquia a infalibilidade e indefectibilidade.

No segundo parágrafo, o bispo Williamson exprime clarissimamente a noção católica de infalibilidade da Igreja. Essencialmente, ele diz isto: que Cristo assiste à Igreja Católica de tal maneira, que Ele os preserva de erro no ensinamento da doutrina católica.

No terceiro parágrafo, porém, diz ele que, porque Deus não quer remover o livre arbítrio, esses mesmos eclesiásticos, que no parágrafo dois eram assistidos por Cristo evitando que cometessem erros, são na realidade capazes de erro. Isso não faz o menor sentido.

Ele tenta salvar a infalibilidade dizendo que Deus não permite que a Sua Igreja se torne “inteiramente defectível”. Prova disso é que até mesmo os papas do Vaticano II ensinaram algumas coisas que eram verdadeiras. Podemos concluir que a Igreja poderia falhar parcialmente, i.e., ensinar um pouco de erro, mas não todo.

Aí então, ele coloca a pergunta: Como alguém pode distinguir entre a verdade e a falsidade, num caso desses? A resposta é: peneirando, isto é, comparando o que é ensinado pelos “papas” vaticanossegundos com o magistério tradicional.

Ele repete então a tese Küng, de que a infalibilidade da Igreja não repousa na hierarquia sozinha, mas na Igreja inteira. “Ela [a Tradição] tem sido aquilo para o que Deus dotou Sua Igreja como um todo – e não apenas os Papas – com a direção do infalível Espírito Santo.” [Sublinhado do original.]

Hans Küng aplaudiria essa afirmação com ardente entusiasmo. Küng diz:

“A Igreja, contudo, não pode simplesmente ser equacionada à Igreja oficial, ao papa e bispos. É antes a Igreja escondida, mas completamente real, daqueles que verdadeiramente creem, aquela que não pode errar, porque Cristo, conforme sua promessa, permanece com ela até o fim do mundo; ela é a “coluna e o baluarte da verdade” (I Tim. III, 15) Nessa medida, a Igreja foi preservada mesmo sob um papado errante e falhante.”
[11. Küng, op.cit., pág. 195.]

A teoria do bispo Williamson nos faria crer que a infalibilidade e indefectibilidade da Igreja são preservadas pela triagem que os fiéis fazem do magistério papal, a fim de descobrirem os erros deste. Num caso tal, o Espírito Santo assiste à Igreja discente quando Ele falhou em assistir à Igreja docente, i.e., a hierarquia. Isso não faz sentido algum. O que pode ser a assistência do Espírito Santo ao Papa e bispos, se Ele falha em preservá-los de ensinar erro à Igreja inteira? Se Ele falha em preservá-los de erro, que garantia nós temos de que a Tradição é a verdade?


Conclusão

O bispo Williamson vem laborando sob graves erros conceituais acerca da natureza do magistério, da infalibilidade da Igreja, da indefectibilidade da Igreja, e da natureza do pecado e crime de heresia… As teorias dele sobre o magistério tornam a ele e aos seus seguidores logicamente comprometidos com a heresia de que o magistério ordinário universal pode realmente ensinar alguma coisa contrária à fé.

O erro do bispo Williamson é o seguinte: ele separa a infalibilidade e indefectibilidade da Igreja Católica Romana da hierarquia dessa mesma Igreja, e transfere-a para os fiéis peneiradores.

Em contrapartida, a força do argumento sedevacantista é identificar de maneira absoluta e exclusiva a infalibilidade e indefectibilidade com a Hierarquia Católica Romana. Consequentemente, uma hierarquia falhante não é a Hierarquia de maneira alguma.

O bispo Williamson, no entanto, não está enxergando o quadro geral e uma coisa que é absolutamente fundamental: O Vaticano II e suas reformas são uma mudança substancial da Fé Católica, ou meramente acidental? Dito de outro modo: A religião que encontro em minha paróquia local, operada sob a direção e aprovação do “Papa” Francisco e do “bispo” Novus Ordo local, é a Religião Católica? Ainda de outra maneira: Se eu praticar a religião que me é dada por o que o bispo Williamson diz serem o Papa e os bispos católico-romanos, eu vou para o Céu? Essa religião agrada a Deus, ou desagrada? É a verdadeira religião, ou uma falsa?

Se afirmamos que a nova religião é substancialmente a mesma que o Catolicismo pré-Vaticano II, que ela é a religião católica, e que uma pessoa pode salvar a sua alma adotando-a e praticando-a, então que necessidade temos do movimento tradicional? Resistir a estas mudanças seria resistir à Fé Católica. Seria assinarmos nossa própria condenação à morte eterna.

Se, em contrapartida, a nova religião é uma alteração substancial do Catolicismo Romano, se ela não é a religião católica, e se ela é desagradável a Deus e caminho do inferno, então como podemos dizer que ela é promulgada por uma Igreja infalível e indefectível?

O bispo Williamson em suas explanações está dando a linha padrão de Ecône, a fim de justificar a posição deles de reconhecer e resistir. Querem eles reconhecer a hierarquia Novus Ordo como verdadeira hierarquia católico-romana, mas ao mesmo tempo resistir a ela em praticamente tudo. Eles condenam o Concílio, a Missa Nova, os novos sacramentos. Dizem às pessoas para não irem às Missas aprovadas por essa suposta hierarquia católico-romana. Como nada disso faz o mais mínimo sentido em teologia católica, uma nova teologia teve de ser urdida por Ecône, a fim de justificar-se. Eu me lembro. Já escutei todas essas coisas. Ouvi o Arcebispo Dom Lefebvre dizer em conferência: “O magistério do Vaticano II é só magistério ordinário, que não é infalível.” Na época, acreditei nisso; descobri mais tarde que era um erro gravíssimo, mesmo uma heresia, prout iacent. Era também o Arcebispo Dom Lefebvre que usava a analogia e a palavra peneirar o magistério e leis da hierarquia Novus Ordo para determinar o que é católico e o que é modernista.

A teologia de Ecône remove a infalibilidade e indefectibilidade da Igreja da hierarquia Católica, que é a Igreja docente, e coloca-a nos fiéis, ou Igreja discente. Fazer isso é fazer da Igreja Católica a Igreja Protestante, na qual os indivíduos são inspirados pelo Espírito Santo para descobrir a verdade.

A doutrina católica é que a Igreja docente, a Hierarquia Católico-Romana, é a infalível preservadora da Tradição, e infalivelmente a propõe a toda a Igreja. Com efeito, se isso não fosse verdade, não haveria Tradição alguma com a qual comparar o Vaticano II e suas reformas. Pois, como disse o teólogo do século dezenove De Groot em seu tratado sobre a Igreja: “Todo aquele que separa do magistério infalível da Igreja a salvaguarda e preservação das tradições, remove a infalível certeza dessas tradições com relação ao homem.” [12. De Groot, J.V., O.P., Summa Apologetica de Ecclesia Catholica (Ratisbona: G.J. Manz: 1906) pág. 765. Grifos no original.]

Ironicamente, tanto o bispo Williamson quanto Hans Küng separam da hierarquia da Igreja Católica a salvaguarda e preservação das tradições.

Se bem que o bispo Williamson certamente não queira ter parte alguma com a heresia, sem embargo ele, mediante sua teologia econiana, acha-se vizinho de porta ao lado de Hans Küng.

_____



APÊNDICE
Resposta a uma objeção:
o sedevacantismo faz “triagem de papas”?

Fez-se uma objeção à minha recente réplica ao bispo Williamson. É uma objeção que frequentemente se faz contra os sedevacantistas. Objeta-se que os sedevacantistas não podem criticar a FSPX por fazer a triagem do magistério, já que eles próprios estão fazendo a triagem dos papas. Encontrando discrepância entre o magistério pré-Vaticano II e o magistério pós-Vaticano II, os sedevacantistas meramente depõem papas que eles constatam carecer de ortodoxia. Mas eles não têm autoridade para fazer isso. Logo, ao mesmo tempo que os sedevacantistas objetam à “peneiração do magistério”, eles próprios estão envolvidos em “peneiração de papa”, o que dá no mesmo.

Antes de tudo, como disse em meu artigo, todo católico deve comparar tudo o que ele escuta com o magistério anterior da Igreja, inclusive novos atos do magistério mesmo, dado que o magistério fixa os dogmas da Igreja, que são objeto de nossa fé. Então, uma vez que a Igreja tenha se pronunciado sobre qualquer questão dogmática ou moral, o pronunciamento dela fica gravado no mármore. Nada, daí em diante, pode contradizê-lo legitimamente. Mesmo papas estão vinculados ao magistério precedente.

A assistência do Espírito Santo à Igreja assegura que todo ato do magistério da Igreja estará em conformidade com o magistério anterior. Ademais, pelo dom da indefectibilidade, o Espírito Santo assiste à Igreja de tal maneira, que nenhuma disciplina ou lei universal, quer seja ela litúrgica ou outra, poderia prescrever algo pecaminoso.

Logo, havendo contradição entre o magistério anterior e o presente magistério, o católico tem de ficar do lado do magistério anterior, que não é alterável de maneira alguma, e é objeto da sua virtude de fé. Assim fazendo, o católico é obrigado a enxergar o “magistério” contraditório como não derivado da hierarquia que é assistida pelo Espírito Santo. Pois é impossível que uma hierarquia, assim assistida, possa promulgar uma coisa dessas. Logo, a contradição que se encontra no novo “magistério” tem de ser vista como um sinal infalívelde que ele não procede de uma hierarquia divinamente assistida. Logo, a promulgação das heresias do Vaticano II por Paulo VI é sinal infalível de que ele não possuía a autoridade papal, nem jamais o fez, já que ele teria sido assistido de tal maneira a evitar a promulgação de heresia e erro.

Pode-se dizer o mesmo das leis e disciplinas. Se os tradicionalistas estão dizendo que a nova liturgia é má, e que os novos sacramentos são inválidos ao menos em alguns casos, e que o Código de Direito Canônico de 1983 contém leis pecaminosas, então eles estão implicitamente asseverando que é impossível que essas coisas procedam de uma hierarquia divinamente assistida. A conclusão é o sedevacantismo.

Note-se que o tradicionalista não pode evitar a conclusão do sedevacantismo sem negar implicitamente a assistência do Espírito Santo à Igreja, o que seria realmente herético.

O grave erro da FSPX e do bispo Williamson é, precisamente, dizer que o Papa e a Hierarquia Católica como um todo é capaz de contradizer o magistério anterior, e é capaz de promulgar liturgias más, disciplinas más e leis más para toda a Igreja, destarte criando e promulgando toda uma nova e falsa religião. A solução, dizem eles, é passar o magistério, liturgia, disciplinas e leis conciliares e pós-conciliares pelo crivo, para obter o que eles julgam tradicional, ao mesmo tempo que reconhecendo os promulgadores da religião falsa como a legítima hierarquia católica. Isso significa que a hierarquia católica infalível promulgou universalmente heresia e erro, assim como liturgia má, leis más e disciplinas más. Só que isso é contrário à fé.

Portanto, a fé exige de nós, não que coemos o magistério e disciplinas faltosos, mas que rejeitemos os promulgadores como falsa hierarquia, isto é, como uma hierarquia que não têm a autoridade de ensinar, de governar e de santificar a Igreja.

Os sedevacantistas não estão depondo ninguém, dado que não têm autoridade alguma para o fazer. Assim, na tese do bispo Guérard des Lauriers, os fiéis podem e devem dizer somente que a hierarquia Novus Ordo carece de autoridade, pelas razões aduzidas, mas não está – nem pode ser – deposta, salvo por uma autoridade legítima.

O sedevacantismo, como eu disse em meu artigo, segue aquilo que S. Paulo diz aos fiéis gálatas no primeiro capítulo dessa Epístola. Se alguém, incluindo um anjo ou ele mesmo, pregar uma doutrina diferente daquela que ele pregou, seja anátema. Ele não diz: peneirem a doutrina falsa para reter as migalhas tradicionais. Noutras palavras, se o pregador viesse a contradizer o magistério precedente, ele deveria ser totalmente rejeitado, e não “aceito mas peneirado”. Assim também, Paulo IV convoca à plena rejeição do eleito papa que calhe de ser um herege. Os fiéis têm o mandamento, não de peneirar a doutrina dele para reter o que for verdadeiro, mas de considerá-lo um falso papa.

Portanto, se com “triagem de papas” se quer dizer que os fiéis católicos devem rejeitar como falso um pregador de doutrina falsa, ainda que ele porventura fosse o próprio S. Paulo, nesse caso os sedevacantistas se confessam culpados, pois isso é o que S. Paulo e a Igreja Católica exigem que façamos. “Triagem de papas” é, na realidade, o termo errado. “Triagem de herege” é mais exato, isto é: peneirar a hierarquia à cata de hereges, coisa que a Igreja sempre fez. Pois nenhum herege pode ser verdadeiro Papa.

O bispo Williamson quereria transferir a assistência do Espírito Santo, do Papa e Hierarquia, para os fiéis que creem, assegurando assim a infalibilidade do magistério por meio do consentimento e aceitação dos fiéis. Nesse sistema, pode-se ter um Papa e uma Hierarquia em defecção, mas ao mesmo tempo uma Igreja infalível e indefectível.

Diz um ditado que não se pode comer o bolo e tê-lo inteiro ao mesmo tempo. Já nesse sistema, por assim dizer, pode-se ter o seu papa e devorá-lo ao mesmo tempo!




---
(Algumas mudanças na tradução de responsabilidade nossa)


Créditos para: 

Rev. Donald J. SANBORN, Resposta ao Bispo Williamson sobre a Vacância da Sé Romana, fev. 2014; trad. br. por F. Coelho, São Paulo, mar. 2014, blogue Acies Ordinata, http://wp.me/pw2MJ-2eY

Fonte principal: RESPONSE TO BISHOP WILLIAMSON On the Subject of the Vacancy of The Roman See, By Most Reverend Donald J. Sanborn, in:
“novusordowatch.org/sanborn-response-williamson.pdf”.

Apêndice: Is Sedevacantism Pope-Sifting?, 25 fev. 2014, in:
“novusordowatch.org/wire/sedevacantism-pope-sifting.htm”.

CRÍTICAS E CORREÇÕES SÃO BEM-VINDAS:

f.a.coelho@gmail.com

Tuesday, October 25, 2016

Bispo Pivarunas alerta e age contra os Fineístas (Seguidores de Padre Feeney)

Bispo Mark Pivarunas


Nota do boletim de uma das Capelas (St. Benedictine, Lacey Springs - Alabama)

"Aqueles que aderem as doutrinas do Padre [Leonard] Feeney estão barrados de receber os
sacramentos nesta capela". 




*Para conhecer mais sobre o maléfico 'Feneísmo', acesse:
Dossiê contra a heresia Fineísta
.
.
.

Wednesday, October 19, 2016

DOSSIÊ CONTRA A HERESIA “FEENEY-ISTA” [FINEÍSTA],“DOS IRMÃOS DIAMOND”

  Do Blogue Acies Ordinata

“nem haja entre vós um certo orgulho de livre exame, próprio de mentalidade heterodoxa antes que católica, em virtude do qual não se hesita em avocar ao critério do próprio juízo pessoal o que vem da Sé Apostólica” (Papa PIO XII. Alocução “Vos omnes”, 10 Set. 1957,
AAS 49 (1957) 806s., cf. transcrição em: “wp.me/pw2MJ-2DC”).



• J. C. FENTON, O Papa Pio XII e o Tratado De Ecclesia (1958) wp.me/pw2MJ-2yg



• Sto. AFONSO DE LIGÓRIO, Sobre o Batismo (excerto da sua Teol. Moral, l. VI, n.os 95-97) (séc. XVIII) wp.me/pw2MJ-2DH


• J. S. DALY, A Grande Controvérsia sobre a Graça e o Livre Arbítrio(2007) wp.me/pw2MJ-2AO


• __________, Princípios da Controvérsia Católica Expostos e Aplicados aos Escritos dos Irmãos Dimond (199-/2006) wp.me/pw2MJ-7h


• __________, Extra Ecclesiam Nulla Salus — Fora da Igreja Não Há Salvação. Breve Exposição do Dogma, Precedida de Carta a um Feeney-ista (~1987/2006) wp.me/pw2MJ-ov#EENS


• __________, O Dogma Católico do Batismo de Desejo e o Caso das Crianças Mortas sem Batismo (2007) wp.me/pw2MJ-1Yr


• Supr. Sagr. Congr. do SANTO OFÍCIO, Carta Suprema Haec Sacra (8-VIII-1949), cit. na íntegra em: H. BELMONT, Por Que e Como o Santo Ofício Fulminou com Excomunhão, em 13 Fev. 1953, o Pe. Leonardo Feeney (2014), wp.me/pw2MJ-2np


• H. BELMONT, Um Novo Desembarque Corruptor da Fé (2014) wp.me/pw2MJ-2nx


• __________, Fora da Igreja Não Há Salvação (1980) wp.me/pw2MJ-2lS


• Oncle ARMAND, A Sagrada Eucaristia e o Neojansenismo
(2011) wp.me/pw2MJ-Mn


• B. LUCIEN, “A Antiga e Constante Doutrina da Igreja” (1984) wp.me/pw2MJ-2iI


• A. CEKADA, O Batismo de Desejo e os Princípios Teológicos(2000) wp.me/pw2MJ-B



• __________, A Excomunhão do Pe. Feeney Foi Duvidosa? (1995) wp.me/pw2MJ-1Zj


• B. HARRISON, Carta de 15 Out. 2014 ao Editor de The Remnantsobre uma doutrina condenada pela Igreja e ali promovida por John Salza (2014) wp.me/pw2MJ-2uC


• R. GARRIGOU-LAGRANGE, Pré-mística Natural e Mística Sobrenatural (Roma, 1933) wp.me/pw2MJ-2gn

Por que os Tradicionalistas temem o Sedevacantismo?

Tuesday, October 4, 2016

Exposição dos erros de Carlos Nogué



O gramático Carlos Nogué


Infelizmente, venho a público lhe escrever para, como digo, constatar aquela que é uma das grandes tragédias do dito movimento tradicionalista brasileiro, tragédia essa decorrente da má compreensão: 

1) Do Primado, 

2) Sobre a origem divina da Jurisdição e da participação nela de maneira hierárquica e subordinada, ou seja, no Corpo Místico, que é a Igreja e, por fim, 

3) Daquilo que seja a Infalibilidade e seu exercício, ordinário e extraordinário.

O que o eminente gramático (vale lembrar que ele não é teólogo, é gramático!) Carlos Nougué diz entre os minutos 17:0020:00 é simplesmente absurdo e compromete toda a exposição do tema: algo que nos lança para fora da Fé Católica! Simplesmente inadimissível! 

Foi por essas e outras que deixei de frequentar os ambientes “tradicionalistas” brasileiros que, assim, deturpam a Verdadeira Fé e comprometem a salvação das almas. Carlos Nougué e tantos outros espalhados pela FSSPX (como D Tissier) e “Resistência” (D Williamson e D Tomás) nada mais fazem que repetir, neste ponto, o mesmo erro de Pe. Leonel Franca e Pe. Penido em terras brasileiras nos anos 30 e 40 do século passado; erro esse que, aliás, surgiu em ambientes modernistas.

 A seguir, um texto de um verdadeiro Padre Católico e que expõe corretamente a doutrina neste ponto da Infalibilidade: “Duas grandes mentiras sobre a infalibilidade da Igreja Rev. Pe. Matteo Liberatore, S.J. (1810-1892) 

Há aqueles que, seja por ignorância ou antes por malícia, pretendem que o magistério da Igreja não é infalível a não ser quando define os dogmas revelados por Deus; dizem eles que a Igreja se desincumbe desse magistério [infalível] unicamente quando, com um juízo solene, ela define um ponto de fé ou de moral, quer no seio dos Concílios, quer nos decretos pontifícios. Essas afirmações são, todas duas, contrárias à verdade. Para começar, o magistério da Igreja é duplo: um extraordinário, outro ordinário. O primeiro [o magistério extraordinário] é unicamente aquele que se exerce por juízo solene, quando surgiram certas dúvidas referentes ao entendimento dos dogmas, ou então ainda em razão de algum erro pernicioso que ameace a pureza da crença ou dos costumes. Já o magistério ordinário, porém, é aquele que se exerce, sob a vigilância do Papa, pelos pastores sagrados espalhados pelo mundo inteiro, quer por meio da palavra escrita ou falada nas pregações e nos catecismos, quer pelo exercício do culto e dos ritos sacros, quer pela administração dos sacramentos e todas as outras práticas e manifestações da Igreja. Esses dois gêneros de magistério são afirmados em termos expressos pelo Concílio do Vaticano: 

“Somos obrigados a crer, com fé divina e católica, em tudo o que está contido na palavra de Deus escrita ou transmitida pela tradição, e que a Igreja, quer com um juízo solene, quer com um ensinamento ordinário e universal, propõe à nossa crença como revelado por Deus.” 

Pretender que o fiel não esteja obrigado a crer a não ser naquelas verdades que tenham sido objeto de definição solene da Igreja seria redundar em dizer que antes do Concílio de Niceia ele não tinha a obrigação de crer na divindade do Verbo; nem na presença real de Jesus Cristo na Santa Eucaristia, antes da condenação de Berengário. Em segundo lugar, a infalibilidade do magistério extraordinário e do magistério ordinário não se estende unicamente aos dogmas que Deus revelou, mas também às consequências que neles estão contidas, e em geral a tudo o que com eles é conexo, a tudo o que é indispensável para conservá-los intactos e protegê-los contra os ataques e as armadilhas do erro. Sem isso, Deus não teria tomado medidas suficientes para que os pastores sagrados estivessem em condições de preservar os fiéis contra as fontes envenenadas, Ele não os teria provido dos meios necessários para garantir eficazmente o depósito da fé que a eles foi confiado.”

 Visto o texto do Pe. Liberatore, caberia, ainda, desfazer uma confusão, qual seja, a de que os “papas” do cvii não queriam ou não pretendiam que o mesmo fosse obrigatório; a seguir, palavras de Paulo VI, intérprete autêntico do conciliábulo maldito: 

“(…) No necessário, unidade; no duvidoso, liberdade; em tudo, caridade. Primeiro que tudo, a unidade é necessária em guardar religiosamente toda a doutrina transmitida pelo concílioa qual, estando aprovada pela autoridade de um sínodo ecumênico, pertence já ao magistério da Igreja; e, ademais, no que diz respeito à fé e à moral, ela constitui uma regra próxima e universal da Verdade, da qual nunca é permitido aos teólogos divergir no prosseguimento de seus estudos. Quanto à avaliação e a interpretação dessa doutrina, há que cuidar-se de não dissociá-la do restante do patrimônio sagrado da doutrina da Igreja, como se pudesse haver qualquer diferença ou oposição entre os dois. Pelo contrário, tudo o que é ensinado pelo Concílio Vaticano II forma um todo fortemente ligado com o magistério eclesiástico de antes, do qual ele representa a continuação, a explicação e o desenvolvimento” (PAULO VI, “Carta Cum Iam [ao Cardeal Pizzardo], com ocasião do Congresso Internacional de Teologia do Concílio Vaticano II”, 21 de setembro de 1966, trad. br., o mais literal, do original em latim publicado em: AAS 58 (1966), 879 e, mais recentemente, em: http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/letters/1966/documents/hf_p-vi_let_19660921_cum-iam_lt.html .” 

Compreende, prezado Bruno, que estão enganados e nos enganam com esta balela de que o Vaticano II não pretende obrigar? Quem defende tal coisa se esquece que a infalibilidade é uma prerrogativa do papado e, portanto, uma qualidade apriorística e inalienável, que independe de constatação posterior e que, portanto, modifica, em muito, o modo de resistirmos ao “magistério conciliar”… 

Finalmente, na própria explanação em que Paulo VI afirma que o Concílio não definiu dogmas ele salienta, entretanto, justamente isto: que o Vaticano II se exprimiu como “magistério supremo” da Igreja; ei-lo: “(…) dado o caráter pastoral do Concílio, evitou este proclamar em forma extraordinária dogmas dotados da nota de infalibilidade. Todavia, conferiu a seus ensinamentos a autoridade do supremo magistério ordinário ”.

Adiante, um outro texto de minha autoria, já publicado em um sítio brasileiro e que cabe nesse nosso colóquio:

“Caro sr. A.S.e demais leitores,


A todos muito bom dia e Salve Maria. 


Primeiramente, há de se notar que, infelizmente, aquelas pessoas que defendem um posicionamento de obediência ao Papa similar ao da FSSPX não percebem o absurdo de tal coisa (muito provavelmente, por desconhecimento da Doutrina)

Secundariamente, gostaria de me desculpar por não poder voltar aqui antes e, só agora, poder retomar o nosso colóquio: apenas está em meu intuito colaborar trazendo subsídios de ordem intelectual e argumentativa. Terciariamente, peço-vos a leitura do que vem a seguir com Prudência e a devida correção. No geral, parece-me que o centro das disputas gira em torno do seguinte: 1º) se existe Magistério Ordinário e se esse é infalível , 2º) qual o grau de acatamento devido a tal Magistério ( se é que existe, se é que é infalível ).

Tentarei lhes responder em dois itens ( A e B ) que se imiscuem:

A) Afirmo muito serenamente que defender um posicionamento similar ao da FSSPX, o da ‘obediência/desobediência seletiva’ é absolutamente contrário à Fé Católica: não digo que este ou aquele seja herege por defender tal coisa (pois não tenho autoridade para isso), mas digo que não se coaduna com a Fé Católica. Argumentar que fulano ou beltrano já escreveram artigos defendendo tal postura (‘da obediência/ desobediência seletiva’) é tentar justificar para si aquilo que se aponta como erro nos outros, o de elevar algo que está no status ‘opnativo’ (se não herético) ao de verdade aparentemente inconteste.

Explico-me: argumentar que tal e tal documento, por não ter as notas de um ato magisterial solene e que, portanto, não seriam infalíveis de por si, e, não sendo infalíveis por si, não teriam força cogente, podendo ser negligenciados, é uma argumentação que nasceu em meios modernistas. Prestem atenção: é uma argumentação que nasceu em meios modernistas. Tenho em mãos uma revista francesa de 1908 onde já consta tal denúncia ( La Foi Catholique, nº 1, disponível aqui http://www.liberius.net/livres/La_Foi_Catholique_(tome_1)_000000657.pdf ) pelo padre Bernard Gardeau que, ao explicar a gênese da origem modernista, com vistas a um assunto mais profundo (grau de autoridade do Decreto Lamentabili e da Encíclica Pascendi), chega ao cume de narrar um fato sui generis à página 75 e em tom de piada (sobre os graus de assentimento ao magistério, o mesmo padre revisa a matéria às páginas 70-72); qual seja esse fato sui generis, diga-se: o de um colega seu no sacerdócio que afirma serem somente obrigatórios os atos solenes dos Papas. Ora, o que as pessoas que defendem a ‘obediência/desobediência seletiva’ (em função de uma suposta não-infalibilidade do Magistério Ordinário) não se apercebem, o padre Bernard Gradeau o diz no mesmo texto mas, aqui, exemplificarei. 


Consintamos que, imediatamente antes do cvii ( em 1958, por exemplo ), apenas as definições ex cathedra fossem infalíveis; ora, se assim fosse, imaginemos a seguinte situação: Um fiel muito zeloso de Sua Igreja percebe que tanto o padre de sua paróquia quanto o Bispo de sua diocese não andam lá com muito juízo sobre tudo aquilo que diz respeito à edificação e salvação das almas dos fiéis e que, do púlpito, começam, aqui e ali, a fazerem concessões, hora aos divorciados, hora aos maçons, hora aos neomodernistas, hora aos neoliturgicistas, hora à má imprensa e ao democratismo liberal, e etc… Pois bem: nosso fiel Católico hipotético, indignado com tudo aquilo, mune-se de diversos documentos da Igreja para poder, como a própria Igreja sempre entendeu, exigir de seus pastores imediatos, a Fidelidade à Doutrina de Jesus Cristo Nosso Senhor. Nosso fiel Católico consegue marcar uma audiência com seu Bispo, ao qual está presente também o pároco. Assim é que, baseado em documentos da Igreja, o nosso fiel faz uma brilhante exposição de todos os temas e, ao final, ouve a resposta de ambos, padre e Bispo: 

“Meu filho, não há de se inquietar com tudo isso pois, desses documentos que usa, nenhum teem as quatro notas de infalibilidade promulgadas pelo Concílio Vaticano de 1870; não são infalíveis, não são obrigatórios.” 

Eis o nosso fiel hipotético agora triste, decepcionado e voltando para o seu lar: não há mais o que fazer… Voltando de nosso exemplo, poderíamos nos perguntar quais seriam alguns desses documentos que “não tendo as quatro notas de infalibilidade não seriam obrigatórios”; ei-los:


- Decet Romanum Pontificem, condenando Lutero e seu protestantismo, 
não é obrigatório 

- Auctorem Fidei, condenando o jansenismo, não é obrigatório

- Mirari Vos, condenando o liberalismo, não é obrigatório 

- Syllabus, condenando o racionalismo, o naturalismo e o liberalismo, não é obrigatório 

- In Eminenti, condenando a maçonaria, não é obrigatório 

- Humanus Genus, condenando a maçonaria, não é obrigatório 

- Pascendi, condenando o modernismo, não é obrigatório 

- Lamentabili, condenando a a exegese modernista da Sagrada Escritura, não é obrigatóro 

- Quas Primas, que reafirma a Doutrina de Cristo Rei, não é obrigatório 

- Mortalium Animos, que condena o ecumenismo modernista, não é obrigatório 

- Casti Connubii, que reafirma a Doutrina sobre do casamento, não é obrigatório 

- Mystici Corporis, sobre a unidade da Igreja, não é obrigatório 

- Ad Apostolorum Principeis, que reafirma a Doutrina da Igreja sobre a Sagração dos Bispos, não é obrigatório

- A ladainha do “não é obrigatório”… Eis que, depois de Trento, não há um ato Magisterial obrigatório não conexo ao Concílio Vaticano (de 1870), ou melhor, há só dois, os referentes à proclamação dos dogmas de Nossa Senhora (Imaculada Conceição e Assunção). Nesta lógica, como querem essas pessoas que sustentam que tais documentos “não tendo as quatro notas de infalibilidade não seriam obrigatórios” (por supostamente não serem infalíveis, o que geraria um vício de raciocínio), poderíamos honestamente perguntar:

Por que lutar contra a infiltração protestante na Igreja se o Papa que a promulgou (tal condenação) pode estar errado em seu juízo (e o estaria segundo o juízo modernista)? o mesmo modelo de pergunta caberia quanto à pertença de um eclesiástico à maçonaria… e por que não? Similarmente quanto aos demais documentos elencados: para que e por que defender o Matrimônio?, a correta exegese da Sagrada Escritura?, a realeza de Nosso Senhor sobre a sociedade?, a unidade da Igreja e, consequentemente, a verdade salvífica da pertença à vardadeira Igreja? para que denunciar o abuso sobre as Sagrações Episcopais nos meios “tradicionalistas” (que, de Fé, fere a unidade da Igreja), assim como o falso ecumenismo? Assim é que, décadas depois, a “tradição” tenta combater os erros do modernismo pautada pelos parâmetros do inimigo… luta insólita… e ainda há pessoas que creem haver real diferença material/ substancial entre ambas as táticas… há boa vontade, mas isso não basta pois, “de boa intenção em boa intenção, enche-se o inferno”… não é uma condenação que faço mas um apelo para que meus colegas católicos de boa vontade se apercebam do que estou a dizer (boa vontade real, em sentido sobrenatural; não ao gosto maçônico).

Não à toa afirmou o Cd Ottavianni em 2 de Março de 1953, em Aula Magna do Pontifício Ateneu Lateranense: 


“Adesão ao Magistério Ordinário. Surge aqui o problema da convivência da Igreja com o Estado laico. Sobre este ponto há católicos que estão espalhando idéias que não são inteiramente exatas. A muitos desses católicos não se pode negar nem o amor à Igreja, nem a reta intenção de encontrar um meio de possível adaptação às circunstâncias do tempo. Mas não é menos verdadeiro que a sua atitude lembra a do delicatus miles, que quer vencer sem combater, ou a do ingênuo que aceita uma insidiosa mão estendida sem perceber que essa mão o obrigará depois a passar o Rubicon na direção do erro e da injustiça. O principal erro, em que estes incorrem, é exatamente o de não acolherem em sua inteireza as armas da verdade e os ensinamentos que os Romanos Pontífices neste último século e em particular o reinante Pontífice Pio XII têm ministrado deliberadamente aos católicos em suas Encíclicas, Alocuções e Discursos de todo gênero. Para se justificarem, alegam eles que, no conjunto dos ensinamentos da Igreja, é preciso distinguir duas partes, uma permanente e outra transitória, a última das quais é um reflexo das condições particulares do tempo. Vezes demais, porém, atribuem essa feição de reflexos do tempo até aos princípios afirmados nos documentos pontifícios, princípios sobre os quais tem se mantido constante o ensinamento dos Papas – que fazem parte do patrimônio da doutrina católica. Nesta matéria, não pode ter aplicação a teoria do pêndulo, apresentada por alguns escritores para avaliar o alcance das Encíclicas nas várias épocas da história. “L’Église – escreveram – scande l’histoire du monde à la manière d’un pendule oscilant qui, soucieux de garder la mesure, maintient son mouvement en le renversant lorsqu’il juge le maximum d’amplitude atteint… Il y aurait toute une histoire des Encycliques à faire sous cet angle: ainsi en matière d’études bibliques: Divino Afflante Spiritu succède à Spiritus Paraclitus, Providentissimus. En matière de théologie ou politique: Summi Pontificatus, Non abbiamo bisogno, Ubi arcano Dei succèdent à Immortale Dei” (cf. Témoignage Chrétien, de 1 de Setembro de 1950, reproduzido em Doc. Cathol. de 8 de Outubro de 1950). 

Ora, se isto se houvesse de entender no sentido de que os princípios gerais e fundamentais do direito público eclesiástico, solenemente afirmados na encíclica Immortale Dei, refletem apenas momentos históricos do passado, enquanto, depois, o pêndulo dos ensinamentos de Pio XI e de Pio XII, nas suas encíclicas, teria atingido, em seu movimento de “renversement”, posições diferentes daquela, – a proposição seria de considerar-se inteiramente errônea, não só por não corresponder ao conteúdo das próprias Encíclicas, como também por ser teoricamente inadmissível. O reinante Pontífice ensina-nos, na Humani generis, como devemos acolher o magistério ordinário da Igreja, expresso nas encíclicas: 

“Não se deve acreditar que os ensinamentos das Encíclicas não exijam, per se, o assentimento, sob o pretexto de que os Pontífices não exercem nelas o poder de seu Supremo Magistério. Tais ensinamentos fazem parte do Magistério ordinário, para o qual também valem as palavras: Quem vos ouve, a mim ouve (Lc 10, 16); além do que, quanto vem proposto e inculcado nas Encíclicas pertence já, as mais das vezes, por outros títulos, ao patrimônio da doutrina católica” (cf. A. A. S., vol. XLIII, p. 568). Temendo serem acusados de querer voltar à Idade Média, alguns de nossos escritores não ousam considerar como pertencentes à vida e ao direito da Igreja, em todos os tempos, as posições doutrinárias assumidas constantemente nas Encíclicas. Visa a estes a advertência de Leão XIII quando, recomendando aos católicos concórdia e união no combate aos erros, acrescenta: “Por outro lado cumpre resguardarem-se todos ou de estar, no que quer que seja, de conivência com as falsas opiniões, ou de combatê-las mais molemente do que comporta a verdade” (cf. Acta Leonis XIII, vol. V, p. 148).”

B) “Roma locuta est, Causa finita est”, Roma (a Sé Apostólica) falou, a causa está encerrada e, portanto, sobre tudo isso que vem se dizendo, deveríamos nos perguntar: 


“Qual a palavra inequívoca de Roma?”; para tanto existe um texto que é dos mais clarividentes que já pude ler em minha vida e que, sem exagero algum, mereceria uma vida inteira de reflexões e, além, em meu humilde entender, seria suficiente para, no plano intelectual, derrubar todos os sofismas atualmente em voga no meios “tradicionalistas” (principalmente brasileiro).

Aliás, o texto todo não se faz necessário mas, tão somente um parágrafo; Leão XIII em Sapientiae Christianae, §35, seguido de quatro notas do mesmo Magistério Pontifício: 

“Quanto à determinação dos limites da obediência, não imagine alguém que basta obedecer à autoridade dos pastores de almas e, sobre todos, do Pontífice Romano, nas matérias de Dogma, cuja rejeição pertinaz traz consigo o pecado de heresia; nem basta ainda dar sincero e firme assentimento àquelas doutrinas que, apesar de não definidas ainda com solene julgamento da Igreja, são todavia propostas à nossa Fé pelo Magistério Ordinário e Universal da mesma como divinamente reveladas e, as quais, por definição[1] do Concílio Vaticano [de 1870], devem ser cridas com Fé Católica e Divina. Faz-se necessário, também, que os cristãos contem entre os seus deveres o de se deixarem reger e governar pela autoridade dos bispos e, principalmente, desta Sé Apostólica. Vê-se facilmente a razoabilidade desta sujeição pois, efetivamente, das coisas contidas nos divinos oráculos, umas referem-se a Deus e outras ao mesmo homem e aos meios necessários para chegar à eterna salvação. Pois bem, nestas duas ordens de coisas, isto é, quanto ao que se deve crer e ao que se deve fazer, compete, por Direito Divino à Igreja e, na Igreja, ao Romano Pontífice determiná-lo[2]: e eis a razão do porque compete ao Romano Pontífice julgar autoritativamente que coisas contenha o assim chamado Depósito da Fé [a Sagrada Escritura e a Tradiçã ] e que doutrinas concordem com ela e quais dela desdigam; e, do mesmo modo, determinar o que é Bem e o que é Mal; o que se deve fazer ou deixar de fazer para conseguir a salvação eterna e, se isso não pudesse fazer, o Papa não seria intérprete infalível da vontade de Deus[3] ou guia seguro da vida do homem[4]” 



[1]Constituição Dei Filius, § 18: “Por outro lado, com Fé Divina e Católica, deve-se crer tudo aquilo que está contido na palavra de Deus, escrita ou transmitida, e que a Igreja propõe para crer como divinamente revelado, seja por meio de um juízo solene, seja por seu Magistério Ordinário e Universal” 

[2] Constituição Pastor Aeternus, § 7: “Ensinamos, por isso, e declaramos que a Igreja Romana possui, por disposição do Senhor [ ou seja, faz parte do depósito da Fé ], um primado de poder ordinário sobre todas as outras e que este poder de Jurisdição do Romano Pontifíce, sendo verdadeiramente episcopal, é imediato; consequentemente, os pastores de todos os graus e de todos os ritos, assim como os fiéis, seja individualmente, seja em conjunto, devem subordinação hierárquica e obediência ao Romano Pontífice, não apenas nas questões que dizem respeito à Fé e aos costumes, mas também naquelas que relativas à disciplina e ao governo da Igreja difundida sobre toda a Terra.” 

[3]Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, §§ 39-40 ( como desenvolvimento posterior da mesma doutrina ): “Porque Pedro, em força do Primado de Jurisdição não é, senão, Vigário de Cristo e, por isso mesmo, a Cabeça principal deste Corpo é uma só: Cristo; O qual, sem deixar de governar a Igreja misteriosamente por Si Mesmo, rege-a também de modo visível por mei daquele que faz as Suas vezes na Terra e, destarte, a Igreja, depois da gloriosa ascensão de Cristo aos Céus não está edificada só sobre Ele [Cristo], senão também sobre Pedro, entendido como fundamento visível. Que Cristo e Seu Vigário formam uma só Cabeça ensinou-o solenemente Bonifácio VIII na Carta Apostólica Unam Sanctam e seus predecessores não cessaram jamais de o repetir. 

[4]Em erro perigoso estão, pois, aqueles que julgam poder unir-se a Cristo, Cabeça da Igreja, sem aderirem fielmente ao Seu Vigário na Terra. Suprimida a cabeça visível [como fazem os grupos que praticam a “obediência/desobediência seletiva”] e rompidos os vínculos de unidade, obscurecem e deformam de tal maneira o Corpo Místico do Redentor que já não pode ser visto e nem encontrado o porto da salvação por aqueles que o demandam” Quanto àqueles que querem conciliar a defesa integral da Tradição com a prática da ‘obediência seletiva’, restaria desdizerem as palavras infalíveis dos Pontífices supra-citados; aos que teimam em não ver os erros que soçobram a Igreja sem contudo vencê-la em definitivo precisariam, por coerência, demonstrar como palavras tão graves como as acima se adequam aos disparates do pós-concílio.” Terminada essa longa rememoração, espero ter sido claro, Bruno.

Um grande abraço e, conforme o exemplo de São José, Nos SS Corações de Jesus e Maria.”



______________________________________________________

E assim termina o texto que enviei ao sr Bruno, sr. Arai.

Um grande abraço e,
Conforme o exemplo de São José,
Nos SS Corações de Jesus e Maria,
Alexandre V.

Fonte: https://promariana.wordpress.com/2016/06/10/comentario-dos-erros-de-nougue-pode-iniciar-debate-proficuo/




Comentário do mesmo link supracitado:

«MAGISTÉRIO» EQUÍVOCO DO Pe. ÁLVARO CALDERON
O mundinho «tradicionalista» faria bem em ser guiado pelo «magistério» – é assim que Nougué o apresenta – mestre Álvaro Calderon. Ora, como veremos em seguida, este «mestre» cai em contínua contradição lógica nos trechos citados (A análise é baseada no trecho da apresentação da obra “A Candeia debaixo do Alqueire”, P. Alvaro Calderón, «Questões sobre o Concílio Vaticano II»), tanto porque quer impor uma obediência a um «magistério da Igreja» sem demonstrar que se trata do que é conforme ao próprio Evangelho e Ministério pontifício (na verdade – heretizante – Dr. Arnaldo XS), tanto por querer impor docilidade específica à autoridade da Igreja, sem respeitar os termos que define esta e sua obediência. Antes, dá por definido o que claramente prefere crer a respeito, para vergonhosamente legitimar a «nova igreja de Paulo 6º.


Conclui contrariando até os termos da «Imitação de Cristo», da qual se vale para afirmar que o súdito: “não deve julgar “o que se diz”, mas “quem o diz”: se o ensina ou manda a autoridade legítima, não lhe resta senão confiar em que o dito seja reto; só uma autoridade superior pode julgar se o ato é ou não reto. (!) Mas se o conceito original é justamente o oposto: “Não queiras saber quem o disse, mas ponha a mente no que é dito”!


Com estas inépcias Calderón «liquidaria» todo o santo ensinamento evangélico do “Cuidai que ninguém vos engane…”, e do anátema a quem trás outro Evangelho. Sim, para o fiel seria preciso pedir aos prelados no poder, eventualmente lobos vorazes, o que seja a fé que se pode crer e seguir. Eis a gênese do poder conciliar, preservado por esse «mundo tradicionalista» posto sob a pressão de «pecar» se… ao erigir-se em juízes da credibilidade de um «magistério supremo»… duvidando que se trate na verdade do «magistério» da contrafação suprema do «novo» evangelho, que esse «mestre» quer “com a sua própria autoridade” julgar ser magistério na «nova igreja de Paulo 6º»! Quanta miséria humana! A análise é baseada no trecho da apresentação da obra “A Candeia debaixo do Alqueire” (P. Alvaro Calderón). «Questões sobre o Concílio Vaticano II» que Nougué louva, ao mesmo tempo que discorda em alguns pontos. Ora se estes pontos são importantes, então não seria o caso de pôr em questão as próprias «compreenssões» desse «mestre». Sim, porque se toda a sua sabedoria serve para chegar e persistir na conclusão errônea, a que vale seu tomismo, mais que valeu ao mundo do Vaticano 2? E o mesmo se diga de nosso amigo gramático, Carlos Nougué!